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COCO E OURO - JÓIA RARA ::
A
terra diamantina, cenário mágico. O sol
brilha diferente, há uma inusitada luminosidade
que veste as coisas e a alma da gente. A cordialidade,
desenha o caráter do lugar; musical, flui do
coração das pessoas. O sertão se
abre em campos floridos, vestem-se com um nome: sempre-viva.
Rochas apontam o céu e formam uma cortina que
protege. Águas brotam de secretas minas. A história
ordena as prosas nos alpendres, nos bancos dos jardins,
nas praças.
Este é o lugar das preciosas pedras, que ofuscam
a realidade e inventam outras histórias. Os contos
fantásticos, os amores romanescos, as aventuras
fabulosas misturam realidade e imaginação.
Este é o território chamado Diamantina.
Aqui também floresceu uma civilização
barroca, com a sua feérica emanação
de brilhos, como forma de ostentação do
poder da fé. Imbricada no
processo evangelizador da contra-reforma, e, portanto,
caudatária da estética européia
cristã, a arte barroca desenvolveu-se em Diamantina,
de maneira peculiar, imantada pelas diferentes culturas
trazidas pelos novos habitantes, especialmente os negros
escravos. Estes acentos diferenciadores, que deram ao
fenômeno do barroco em Minas a riqueza expressiva
tão característica, estenderam-se pelos
diversos campos artísticos, gerando um sincretismo
do religioso com o profano, que retornava à terra
- em sua mais poderosa sensualidade - as coisas do céu,
tornadas assim, novamente, domínio dos homens
o que por princípio pertenceria exclusivamente
a Deus, legitimando um 'estado de festa' permanente.
A ostentação das riquezas não seria,
portanto, privilégio dos santos nos altares -
mas também - e principalmente - dos mortais.
Homens e mulheres das diferentes classes sociais carregavam
profusamente seus adornos como sinal de dignidade, uma
espécie de decoração do corpo como
símbolo da beleza espiritual.
Afirma-se, assim, a atividade da ourivesaria enquanto
ofício que serve à vaidade e à
ostentação da igreja e dos homens de posses
mas também à classe mais humilde, que
terá igualmente suas jóias, as quais,
embora mais modestas em quilates e brilhos, enunciam
um gosto e referenciam posições no círculo
familiar e social. A festa requer a beleza, o brilho,
nos dedos, no colo, no pulso, nas vestes. As jóias
servem à vaidade, mas são, sobretudo,
profissão de fé na beleza.
Em
Diamantina, a ourivesaria, herdeira direta da arte desenvolvida
em Portugal, tornou-se uma arte de refinamentos, proporcionados
pela profusão, variedade e beleza dos metais
e gemas aqui encontrados. Ensejou também a criação
de exóticas combinações, como o
coco com o ouro e pedras preciosas, técnica que
se torna comum em Diamantina a partir do século
XIX. Diferente do marfim, o coco tem sido usado como
um vantajoso suporte, pela facilidade do corte e entalhe
minucioso, possibilitando a criação das
mais variadas formas. Mais ainda, por facilitar a incrustação
de filetes, pontos de ouro e pedras. Além disso,
é material facilmente encontrado na natureza,
de exploração simples, permitindo variações
cromáticas por simples pintura, sendo o preto
o mais usual.
:: O OFÍCIO ::
Em
Diamantina destaca-se lzaac Luiz Pinheiro, hábil
joalheiro, desenvolvendo uma produção
requintada e belíssima, ganhando destaque, não
só na região, mas também em vários
paises como Itália, África do Sul e Inglaterra.
Artista talentoso tem a satisfação em
ter um de seus trabalhos incluído no presente
oferecido ao papa João Paulo II, por ocasião
de sua primeira vinda ao Brasil. A arte da filigrana,
trabalho de origem portuguesa, também é
uma especialidade da Joalheria Chica da Silva.
Fonte:
Mestres de Ofício
Minas gerais
Sebrae
2001
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